Prevenção sem danos em crianças e adolescentes. Como fazer?

Hoje comemora-se o Dia das Crianças, então cabe uma reflexão sobre o que podemos comemorar… podemos comemorar uma infância livre de estigmas com o corpo e peso? Uma infância com liberdade de fazer os esportes que gostam ou de comer os seus pratos favoritos, com um ambiente de conversa e escuta na sua rotina? Obviamente para os pais, criar filhos é sempre um desafio repleto de aprendizados, sucessos e fracassos. Mas o que nós, como pais, podemos fazer para tornar o dia de nossas crianças melhor em relação a corpo e comida? E acima disso, o que podemos fazer para prevenir doenças relacionadas a corpo e comida?

 O ambiente familiar e escolar são locais importantíssimos na prevenção de obesidade e transtornos alimentares entre crianças e adolescentes. Quando falamos em prevenir sem causar danos, falamos sobre alguns prejuízos que podem ser causados quando se fala em preocupações excessivas com o peso- em vista de uma necessidade constante de atingir o “peso ideal” (que nem existe…). Além disso, a restrição na alimentação e redução da autoestima também podem ser gatilhos de graves doenças. Se o jovem precisar perder peso por alguma razão, colocar o foco só no peso aumenta o risco de desenvolver problemas de saúde. Deve-se sempre pensar na mudança de comportamento, melhorando o estilo de vida envolvendo, entre outros, a nutrição e prática de atividade física.  

A ciência da nutrição é complexa e envolve vários fatores, dentre eles biológicos, psicológicos e sociais. Como pais, cabe-nos ofertar  uma alimentação com padrões nutricionais adequados; e para isso muitas vezes precisamos da ajuda de profissionais. Atualmente, é comum a prática de dieta restritiva, e muitos pais acabam pensando ser normal fazer dieta, passando esse hábito para seus filhos- e isso pode ser um grande problema. Por isso, entender sobre os pontos que podem ser críticos na hora de formar o hábito alimentar de seu filho é muito importante. Um ambiente agradável para fazer as refeições pode construir uma relação com a comida mais adequada e prazerosa. Devemos lembrar que, como pais, também podemos ter as nossas questões pessoais e problemas com o nosso corpo e comida, e por isso é importante rever essas questões e o seu posicionamento. Vale lembrar que sua fala é sempre impactante na vida do seu filho, assim como seu exemplo (tanto do ponto de vista alimentar quanto o de percepção corporal). Portanto, se você se mostrar insatisfeito com o seu corpo, poderá gerar também no seu filho uma insatisfação corporal. Atente-se para que sua casa seja um lar, com acolhimento e escuta…um lugar sem julgamento, para comer e viver com amor e bom senso. E como fazer?

Primeiramente, reflita que comer normal não é fazer dieta. Vamos eliminar a palavra dieta de nossos dias. Respeite sua fome e seu corpo, programe refeições completas e regulares. Procure sentar em um lugar tranquilo e explore a satisfação em comer com os seus filhos.  Observe sua fome, saboreie o prato e preste atenção na hora das refeições. Quando pensamos em prevenir problemas com corpo e comida sem causar danos, devemos pensar em trabalhar, dentre vários aspectos, os fatores ambientais e individuais desses jovens. Para eles, o cuidado com a alimentação, atividade física e auto estima são primordiais para uma boa relação com o corpo e comida. Podemos melhorar alguns comportamentos comuns da seguinte forma: 

  • consumo menor de refrigerantes, doces e salgadinhos;
  •  praticar atividade física prazerosa;
  •  incentivar o café da manhã; 
  • fazer lanches saudáveis; 
  •  reduzir o tempo assistindo à TV (máximo de 1 hora por dia); 
  •  escolher frutas nos lanches (pelo menos 3 porções de frutas no dia); 
  • preferir tomar água no lugar de refrigerantes;
  • todos os dias preste atenção no tamanho das porções e nos sinais da sua fome (preste atenção na saciedade do seu corpo); 
  • evite práticas de controle de peso não saudáveis ;
  • seja ativo, exercite-se pelo menos 30 minutos no dia; 
  • foque nas suas características positivas.

Finalizando então, o que dar de presente para as nossas crianças? Sugiro que o presente seja a LIBERDADE de amar o próprio corpo do jeitinho que ele é, e de poder comer os alimentos desejados dentro de uma boa programação alimentar. Incorporando pequenos e bons hábitos na sua rotina, o resultado poderá te surpreender. E dessa forma, poderemos criar filhos  ativos, poderosos e bem nutridos!

OBS: Vale lembrar que esse texto é uma reflexão de como poderemos tornar a hora da refeição mais adequada dentro de nossa casa. Entendemos que socialmente muitas vezes não é possível  fazer as refeições com nossas famílias, e que passamos por um momento complicado de insegurança alimentar. Mas essas questões não serão trabalhadas nesse texto. 

Para saber mais, conheça a série de livros “Prevenção Sem Danos” no Instagram: @prevencao.sem.danos.

 

 

 

Erika Checon B. Romano

Nutricionista formado pela USP, com Especialização em Fisiologia do Exercício pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e Mestre em Saúde Pública pela USP. Foi nutricionista do AMBULIM-Faculdade de Medicina da USP. Formada no programa Mindfulness-Based Eating Awareness Training (MB-EAT). Trabalha com nutrição clínica com foco no comportamento alimentar. É autora de vários capítulos de livros sobre o assunto. É idealizadora do projeto “Prevenção sem Danos”, trabalhando com prevenção de transtornos alimentares e obesidade, e autora dos livros infanto-juvenis da série @prevencao.sem.danos. Instagram: @erikacheconromano_.

 

 

 

Referências:

  1.  www.newmovesonline.com
  2. www.aedweb.org (GUIDELINES DA ACADEMY FOR EATING DISORDERS)
  3. Watson HJ et al. Prevention of eating disorders: A systematic review of randomized, controlled trials.  Int J Eat Disord. 2016; 49:833-62.
  4. O`Dea Jennifer.Prevention of child obesity:”First, do no harm”. Health education research.2005;20:259-265